Picadeiro

Eis que chega o circo à cidade
Circo é sempre uma boa pedida
Inúmeras atrações, preços populares…
A estrela desse circo é um palhaço
O Artista!
Seu brilho é mais que intenso
Ofusca e opaca ao redor
Isso é propriedade das estrelas
A lona está armada, a serragem cobre o chão
Arquibancadas reluzentes a esperar pelo público
Um majestoso picadeiro a espera d’O Artista
A cidade, insanamente se excita
Carros e seus megafones alardeiam a boa nova
Não há outro assunto nas rodas de conversa
E a grande incógnita, O Artista!
Seu nome estampado em panfletos
Seu nome alardeado aos ventos
É finalmente chegado o grande dia
Filas enormes se formam na bilheteria
Para entrar nesse circo não é cobrado entrada
Todos são sempre bem vindos
Homens, mulheres, crianças, idosos
Venham de onde vierem e como vierem
São sempre todos muito bem vindos ao circo
Suas acomodações são simples
A final o que vale para o circo é a presença
Um gigantesco furor invade o público
A inquietação é indescritível
Em um mundo a parte está O Artista
Que de um reles mortal de nome qualquer
Diante do gélido espelho se transformará
Naquela momento vagarosamente divaga
O som quem vem do público passa-lhe ao fundo
Como trilha sonora inaudivel
A cada peça que lhe cai sobre a pele
A cada toque de tinta em seu rosto
Pouco a pouco a trilha o devora
No picadeiro o locutor instiga o público
Outras atrações o precedem
Globo da morte – homens a desafia a vida
Mágicos – a ilusão de que tudo é possível
Trapezistas – a vida suspensa no ar
Homem-bala – atirar-se na vida é essencial
Para ele essas atrações são as melhores
Gostaria ele de atirar-se cortando o ar
Passar a vida sobre um fio
E principalmente ver que tudo é possível
A função d’O Artista é fazer rir
Tem ele o dom nato do riso
Para ele não há piadas prontas
O improviso é seu roteiro
Para ele até mesmo a noite eterna é motivo de riso
3!, 2!, 1!!!!! Pausa, silêncio!
Um segundo de silêncio que perece eterno
O público explode em ecstasy
Eis que adentra o picadeiro O Artista
Faz sorrir rir enquanto chora
Cada momento por mais fúnebre que pareça
Em sua vida vira piada
Basta passar batom no beijo da noite
E temos o colorido beijo da manhã
Coloque borboletas no deserto da solidão
E temos um belo e florido jardim
Jogue um balde de tinta sobre as angustias
Eis que surge um mundo de esperanças
Ávido, límpido e colorido
Tudo no mundo tem um lado risonho
Por pior que seja, o tem
Sua vida é sempre a piada principal
Faz rir de sua própria desgraça
Em seu mundinho de nome qualquer
A vida é diferente, e muito
Suas angustias o devoram
Seus medos são por ele devorados
Vive a cada dia como se não houvesse outro
Para ele cada instante é único
Até mesmo o piscar dos olhos é único
Ama como quem jamais teria antes amado
Tem em si uma grande pureza
Pureza essa que raros crêem
Tal inocência vira riso, descrédito
Sua naturalidade é constrangedora
Seu público loucamente delira
Gênio do bom humor e sensibilidade
Cada riso que passa em sua vida
O marca de forma especial
Uns mais profundos que outros
Mas nenhum passou sem tê-lo marcado
Sabe ele que deixa marcas em vidas alheias
Muitas delas mais profundas que o gostaria
Seu riso é sua maior arma e desgraça
Enquanto faz rir, chora
Eis que todo espetáculo chega ao fim
O público risonhamente se vai
As luzes, uma a uma se apagam
A serragem varrida…
O picadeiro lentamente desmontado
Enquanto isso volta ele ao espelho
Volta ele a sua vida de nome qualquer
Cercado pelo mundo e vivendo sozinho
A tinta pouco a pouco se vai
Sua armadura é cuidadosamente guardada
O dia lá se vai e o amanhã é um novo dia
A vida lentamente o perece
E a próxima cidade se aproxima




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